INFINITOS SÓ(I)S
Por
entre molduras, o gordo e velho Sol, 250 pés acima da minha cabeça,
dispara raios dourados inatingíveis que emanam de sua coroa de espinhos dourados. O calor que fervilha do bule de
chá na cozinha da enfermaria faz as glândulas do dorso expelirem
lágrimas por entre os poros que compõe a esburacada muralha negra
do meu corpo.
A
luminosidade branca da lâmpada fluorescente machuca a íris, e o
suor vem para refrigerar a aridez que a mesma pintura de sempre
causou nas minhas lentes acostumadas a admirar os astros mais
distantes nos confins do espaço-tempo, em suas órbitas neurais pelas
redes cósmicas.
O
frio das hélices barulhentas queima as mãos com os 45º graus
do meio dia, e a sombra da diminuta cela torna-se o refúgio de uma
oliveira ou olaia, com os mesmos galhos e cordas convidativas que
seduziram Judas, me protegendo do céu aberto acima das planícies
artificiais incrustadas entre azulejos e mármores resplandecentes e
quebrados.
A
artéria, que reside na ponta de uma agulha conectada a um líquido
azul faz-me sentir a insolação outrora tão prazerosa, em que
pedaços da minha carne ardiam por dolorosos dias após prazerosos
momentos à beira-mar dos gigantescos e salgados rios onde estrelas
do mar nasciam e explodiam e cavalos-marinhos corriam livres pelos
arados do reino do regente desconhecido.
Longos
comprimidos descem minha garganta e a sensação de escassez de água
me faz retornar as longas caminhadas junto aos escravos e a Moisés.
Abrem-se os mares vermelhos da minha garganta para a passagem das
tábuas da racionalidade e da estabilidade emocional, e meu esôfago
floreia com a ânsia de vômito ao observar os meus iguais serem
devorados por urubus no meio desta terra homogênea devastada.
A
mão toca a maçaneta e recua ante a queimadura do ferro fervido,
restando marcada pela marca do pecado junto a pulseira de
identificação da normal anormalidade que me torna um singular
semelhante aos outros anormais.
No
pátio, os olhos se dirigem ao chão de estrelas. Sou louco, palhaço das perdidas ilusões,
por ver 1,2,3,5,1597,2584 sóis arremessando seus raios por todas as
direções em minha direção. Ponho meus escuros óculos de grau.


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