quarta-feira, 11 de julho de 2018

INFINITOS SÓ(I)S



Por entre molduras, o gordo e velho Sol, 250 pés acima da minha cabeça, dispara raios dourados inatingíveis que emanam de sua coroa de espinhos dourados. O calor que fervilha do bule de chá na cozinha da enfermaria faz as glândulas do dorso expelirem lágrimas por entre os poros que compõe a esburacada muralha negra do meu corpo.

A luminosidade branca da lâmpada fluorescente machuca a íris, e o suor vem para refrigerar a aridez que a mesma pintura de sempre causou nas minhas lentes acostumadas a admirar os astros mais distantes nos confins do espaço-tempo, em suas órbitas neurais pelas redes cósmicas.

O frio das hélices barulhentas queima as mãos com os 45º graus do meio dia, e a sombra da diminuta cela torna-se o refúgio de uma oliveira ou olaia, com os mesmos galhos e cordas convidativas que seduziram Judas, me protegendo do céu aberto acima das planícies artificiais incrustadas entre azulejos e mármores resplandecentes e quebrados.

A artéria, que reside na ponta de uma agulha conectada a um líquido azul faz-me sentir a insolação outrora tão prazerosa, em que pedaços da minha carne ardiam por dolorosos dias após prazerosos momentos à beira-mar dos gigantescos e salgados rios onde estrelas do mar nasciam e explodiam e cavalos-marinhos corriam livres pelos arados do reino do regente desconhecido.

Longos comprimidos descem minha garganta e a sensação de escassez de água me faz retornar as longas caminhadas junto aos escravos e a Moisés. Abrem-se os mares vermelhos da minha garganta para a passagem das tábuas da racionalidade e da estabilidade emocional, e meu esôfago floreia com a ânsia de vômito ao observar os meus iguais serem devorados por urubus no meio desta terra homogênea devastada.

A mão toca a maçaneta e recua ante a queimadura do ferro fervido, restando marcada pela marca do pecado junto a pulseira de identificação da normal anormalidade que me torna um singular semelhante aos outros anormais.

No pátio, os olhos se dirigem ao chão de estrelas. Sou louco, palhaço das perdidas ilusões, por ver 1,2,3,5,1597,2584 sóis arremessando seus raios por todas as direções em minha direção. Ponho meus escuros óculos de grau.


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