Eu
vi vocês vivendo
no
paraíso de balanços vermelhos
de
gramas verdes eu vi vocês
vivendo
no paraíso de comidas abundantes
de
piscinas refrescantes de quadras sem mercados acontecendo nas
esquinas
tiros
de serpentina eu vi.
Vocês
defendendo pessoas como eu
vocês
defendendo pessoas que me matariam
eu
vi vocês consumindo monstros e
jogando
tomates em anjos.
Seus
frutos vivem no paraíso e anjos no inferno queimam
asas
tolhidas tigelas partidas e olhares distantes.
Nesse
mundo cercado de cercas vivas
mortas
eletricidades correm por entre moscas mortas e seus muros celestiais
estão
pintados com o sangue de nossas vidas.
Armas
eu vi vocês incitando contra mim
quando
pedi um prato de fubá
Canhões
e Matadeiras por entre as favelas
exércitos
pisando os cemitérios dos meus irmãos
barcaças
invadindo as matas e cortando o sertão
serão
vocês minha criação?
ou
eu vi vocês descendo do paraíso
atirando
tiros imprecisos
na
noite de dia
do
fogo do vulcão
o
anel da criação
queimou
o sangue dos ímpios
e
os atirou por entre precipícios
do
alienígena mundo esquecido
só
por não cobrarmos o preço do pão
Por
entre canudos aspira o céu a fumaça que queima
as
matas as feiras as casas as freiras os aleijados
as
crianças indefesas
e
na psicodelia e na bebedeira
de
cacetetes e machados
soldados
fardados correm das pedras arremessadas
das
caveiras anunciadas
das
facas dos cangaceiros
que
cortam o ventre do demônio céu
regando
com seu sangue e sua surpresa
a
serra da catingueira
o
cais da maldição
em
uma vida sem agonia
sem
seus muros e seus vigias
em
que eu possa pescar meu peixe
sem
ter que vender meu corpo e meu coração
E
cai a luz da companheira
refletida
nos lagos vermelhos de destruição
e
seus muros antes pichados
gritam
por entre tintas pela absolvição
dos
anjos que foram enjaulados
por
serem apenas pacíficos e calmos
em
face a ventania da sorte
ao
pesadelo das vidas contidas
pela
morte e pelo não
pela
negativa de perdão ao irmão prejudicado
pelo
medo da diferença que mostrou a cada dia
que
o padrão para se pular em uma piscina
para
cirandar em uma grama verde na colina
é
estar trancado e protegido por demônios armados
que
são pagos por algumas famílias
que
não gostariam de compartilhar a luz do dia
com
seus irmãos desafortunados
Eu
vi vocês levantando um dia
e
vendo os muros desmoronados
e
aquele cuspe aquela esmola aquele tiro aquela bota
aquele
incêndio planejado
aquele
estupro aquele ocaso
que
por acaso era de filhas da terra
que
por acaso a bala atravessou as costas de um anjo de caderno e sapatos
te
prendem em um pesadelo que não mais podes comprar
E
vi sua tijela de cereal quebrar para alimentar
a
fome dos que vagam pelados
Eu
vi vocês balançando os pés sobre o buraco da cordilheira
Dançando
ouvindo a música do mar
e
o círculo de balas e pedras
não
pode deter a espera
de
um signo iluminado
vocês
em gramas verdes eu vi
construindo
o encanto e saudando o pranto dos pássaros
que
de alegria toam sem cansaço
a
música de uma vida sem mestres e espantalhos
sem
camponeses mortos e espancados
o
amor na periferia
Eu
vi vocês vivendo
no
paraíso de balanços vermelhos
de
gramas verdes eu vi vocês
vivendo
no paraíso de comidas abundantes
de
piscinas refrescantes de quadras sem mercados acontecendo nas
esquinas
tiros
de serpentina eu vi.








